Robert Owen é uma das minhas personagens preferidas da história de Inglaterra, pelo menos dentro das que estudei.
Era um socialista que viveu entre 1771 e 1858, e que adoptou como missão melhorar as condições de vida e trabalho dos trabalhadores, como modo de superação da desigualdade social e económica.
Esta visão "utópica" provou ser realizável, quando assumiu a presidência da maior fábrica de fiação de algodão do Reino Unido, a New Lanark, onde o vício e a imoralidade de uma sociedade deplorável reinavam.
Idealista como era, acreditava que o carácter do homem era maleável e que residia na sociedade o poder de malear esse carácter. ("O carácter do homem é feito para e não por ele").
Na New Lanark homens mulheres e crianças, algumas com 5 ou 6 anos de idade, trabalhavam até 14h por dia, seis dias por semana e ganhavam salários miseráveis que os levava a viver em condições quase sub-humanas, sem atenção para a higiene, que originava a proliferação de doenças e o aumento de mortes.
Owen considerava que os administradores das indústrias deveriam assumir o papel de reformadores. Assim, e para dar o exemplo, construiu em Lanark casas melhores para os seus empregados, manteve as ruas limpas, construiu uma escola para as crianças e ainda um armazém onde era possível adquirir mercadoria a um preço mais justo. Reduziu ainda o horário de trabalho para 10h diárias, melhorou o espaço de trabalho tornando-o mais limpo e mais agradável, proibiu a agressão a crianças e recusou-se a contratar as que tivessem idade inferior a 10 anos.
Ao contrário dos seus colegas empresários, Owen acreditava que o melhor investimento estava nos trabalhadores e que sem eles não haveria produção nem, por conseguinte, riqueza, pois as fábricas sem trabalhadores viam-se obrigadas a fechar.
Robert Owen promoveu o bem-estar no local de trabalho e provou que um toque humanista motiva os trabalhadores.
Na sua indústria os fios de algodão tiveram uma melhoria de qualidade, o que resultou no aumento dos lucros, isto devido ao tratamento diferenciado que dava aos seus empregados, em contraste com o modo como os restantes empresários tratavam os seus.
Porém isto não são coisas do "século passado", ainda hoje existem administradores que não sabem dar o devido valor aos seus empregados, nem respeitam ou lutam pelo bem-estar dos mesmos.
Julgam que ao demonstrar interesse por esse mesmo bem-estar, para além do necessário legal, demonstram fraqueza ou falta de liderança. Não compreendem que um trabalhador satisfeito é um trabalhador mais motivado, logo, mais produtivo. Ao estar contente com o seu ambiente de trabalho e com o modo como é tratado, faz o seu trabalho melhor e com maior prazer, o que, obviamente, leva ao aumento da produção e da sua qualidade.
Não sabem separar respeito com autoridade em busca de respeito, isto é, não entendem que não é por serem mais autoritários ou intransigentes que conseguem maior respeito dos outros, muito pelo contrário, conseguem apenas ser mais odiados, ao ponto dos trabalhadores deixarem de ter interesse em fazer um bom desempenho. É possível conseguir respeito sendo um bom líder e sendo acessível, demonstrando interesse pelo bem-estar do trabalhador, sendo bem-educado e, quem sabe também, sendo minimamente simpático (sorrir diariamente e não apenas quando está a repreender alguém é uma boa forma de demonstrar simpatia). Um administrador implicante e mesquinho, cujo maior prazer é encontrar e apontar falhas no trabalhador não pode nunca ser um bom administrador, além de dar a parecer que não tem mais nada que fazer durante o seu dia a não ser melindrar ou diminuir os (poucos) momentos de prazer dos trabalhadores, como por exemplo, sei lá... os 15 minutos matinais de descanso, obrigatórios por lei, passados a comer à porta da empresa...
Claro que hoje em dia não necessitamos de gestos tão grandes como a criação de casas e escolas, hoje em dia as modificações necessárias são mais pequenas e insignificantes, e, no entanto, parecem tão dificeis de obter quanto estas que Owen levou a cabo.
Porém, não deixa de ser interessante saber que, já nos séculos XVIII-XIX existiam administradores inteligentes, que viam a necessidade de uma mudança de atitude, numa perspectiva de gestão empresarial com foco na qualidade das relações e na geração de valor para todos... afinal, não é com vinagre que se apanham moscas! Robert Owen é, sem qualquer dúvida, um exemplo a ser seguido... pena ter sido um Irlandês que viveu na Inglaterra, Portugal podia ter aprendido algumas coisas com ele.